Na intimidade doméstica



A espiritualidade nos lembra, com frequência, a necessidade de estender o auxílio fraterno aos que estão atravessando por dificuldades.

Jesus, em seu Evangelho, deixa claro que devemos empregar nosso tempo no campo dos deveres que a vida nos cobra sem que deixemos de lado o socorro aos necessitados.

A espiritualidade lembra, ainda, que o exercício da fraternidade é o campo em que todos devemos trabalhar visando ensinar e reduzir o sofrimento dos que ainda não compreenderam as razões da vida ou passam por provações difíceis.

Não resta dúvida de que esse comportamento generoso é necessário ao aprimoramento da existência; é importante, sim, socorrer e auxiliar, amparar e proteger, ser constante e não reclamar!

Mas, o que vemos e ouvimos não nos parece estar de conformidade com os ensinamentos de Jesus, pois grande parte dos nossos irmãos, alegando dificuldades no entrosamento entre os integrantes do próprio lar, prefere estender o potencial de bondade que existe em cada coração e vai distante, bem distante do ninho doméstico, para oferecer recursos de toda sorte àqueles que julga estarem atravessando por esses momentos difíceis.

Sem dúvida é um gesto altruístico, uma atitude caridosa... porém, esse bondoso coração de perfil samaritano melhor faria se estendesse seus sentimentos caridosos aos próprios íntimos, no refúgio do lar, exatamente no ninho doméstico onde se encontram as almas com as quais se acha fluidicamente vinculado sob os laços mais profundos dos compromissos que vão além desta vida presente. O lar, e não há nenhuma dúvida nesse sentido, traz os mais sagrados e importantes degraus que devem ser vencidos, com dignidade e amor, para que se possa respirar em campo livre, com o dever retamente cumprido.

Emmanuel, mentor de Francisco Cândido Xavier (1910-2002) por 75 anos nesta sua existência, enviou-lhe a mensagem 'Na intimidade doméstica', abordando a realidade que ocorre na vida de muitos, quando entendem, por interesse pessoal, que os mais distantes é que podem ser os seus mais próximos. 'Na intimidade doméstica':

"A história do bom samaritano, repetidamente estudada, oferece conclusões sempre novas.

O viajante compassivo encontra o ferido anônimo na estrada.

Não hesita em auxiliá-lo.

Estende-lhe as mãos.

Cura-lhe as feridas.

Recolhe-o nos braços sem qualquer idéia de preconceito.

Conduze-o ao albergue mais próximo.

Garante-lhe a pousada.

Esquece conveniências e permanece junto dele, enquanto necessário.

Abstém-se de indagações.

Parte ao encontro do dever, assegurando-lhe a assistência com os recursos da própria bolsa, sem prescrever-lhe obrigações.

Jesus transmitiu-nos a parábola, ensinando-nos o exercício da caridade real, mas, até agora, transcorridos quase dois milênios, aplicamo-la, via de regra, às pessoas que não nos comungam o quadro particular.

Quase sempre, todavia, temos os caídos do reduto doméstico.

Não descem de Jerusalém para Jericó, mas tombam da fé para a desilusão e da alegria para a dor, espoliados nas melhores esperanças, em rudes experiências.

Quantas vezes surpreendemos as vítimas da obsessão e do erro, da tristeza e da provação, dentro de casa!

Julgamos, assim, que a parábola do bom samaritano produzirá também efeitos admiráveis, toda vez que nos decidirmos a usá-la, na vida íntima, compreendendo e auxiliando os vizinhos e companheiros, parentes e amigos, sem nada exigir e sem nada perguntar."


Da obra Coragem, de Emmanuel, por Chico Xavier.

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